Música de elevador, música de cardíaco, easy listening... Essas são algumas definições dadas a música Lounge. Na verdade há um mau uso do termo Lounge antes mesmo de falarmos em música.

É como publicitários de plantão usando o termo expertise em propagandas de banco: Nossos gerentes têm expertise em fundos de renda fixa - essa palavra vem de expert em inglês (especialista), mas porque falar especialidade se expertise é novo e mais chique?

Lounge cai numa trajetória parecida, pois foi usada impropriamente em libertinagens publicitárias. Na tradução pura, Lounge significa simplesmente área, lugar ou ambiente; daí o ponto de música ambiente. Lounge music é descompromissada, pois não foi criada para ser jazz, mas sim para ser uma música agradável e ritmada, que fica de plano de fundo para pessoas beberem coquetéis e se divertirem.

Alguns músicos da era de ouro de Hollywood se tornaram lendas, sendo o mais famoso deles Henry Mancini, o pai do tema da Pantera cor-de-rosa. Burt Bacharach é outro que, ouvindo com calma, todo mundo conhece ao menos alguma música, como The look of love do filme Casino Royale de 67. E Lalo Schifrin? Missão Impossível soa familiar? Vou ficar destacando nomes para facilitar suas pesquisas na web, certo?

Já viu uma cena de filme de terror com uma música cômica? Muda totalmente o clima da cena. Esse é o poder deste gênero. Especialistas em trilhas ambientes têm a capacidade de transformar qualquer atmosfera. Arthur Lyman e Martin Denny que o digam. Ambos já trabalharam juntos no passado e seguiram carreiras em que o Lounge era quase hardcore de tantos detalhes, sons de sapos, araras e outros pássaros exóticos compunham o clima.

Diz a lenda que Martin Denny tocou uma certa vez em um bar havaiano e um sapo coaxou ao fundo durante toda a performance, em outras apresentações este coaxar foi cobrado pelo público que pensara ter sido um ato proposital. Acabou virando. Esse estilo de som da floresta ficou conhecido como Exotica Lounge. Temas havaianos, tribais africanos (como Chaino, com bongôs ritmados em ritmos africanos) podem transformar sua sala em um misterioso bangalô remoto.

Mas não pense que este gênero só é composto por dinossauros extintos do passado, uma facção de músicos contemporâneos assumiram sua paixão por este estilo tocando em coletâneas de tributo a Mancini, como Shots in the Dark e Pink Panther's Penthouse Party - ambas intituladas segundo os filmes do inspetor Clouseau.

Um filme contemporâneo com uma trilha fantástica é o Four Rooms (Grande Hotel em português), uma comédia cheia de atores famosos, de Banderas à Madonna, 4 histórias dirigidas por 4 diretores. Entre eles Robert Rodrigues e Quentin Tarantino, a trilha sonora foi feita pelo Combustible Edison, única banda de Easy Listening do selo de músicas grunge Sub Pop. Se você já viu, veja de novo. Afinal o filme é melhor que Evita. O Combustible Edison já se extinguiu, mas deixou 3 maravilhosos discos. Outra banda originária desse retorno ao gênero, no início dos anos 90, foi o Pink Martini que, com sorte, ainda teremos mais lançamentos.

Entenda, houve um revival do gênero, mas poucas bandas levaram o assunto tão a sério a ponto de serem comparados com os pioneiros de outrora. Sou muito exigente quanto a meus solos de xilofone e micro detalhes nos arranjos.Aliás, falando em não entender mal, não posso deixar de relembrar que o Brasil está muito bem incluso neste universo, pois já ouvi Garota de Ipanema em todas as versões e traduções possíveis (é notória por ser uma das musicas mais reproduzidas do mundo), inclusive na versão elevador.

Marcadores: Cultura e Lazer